– Bom dia, patroa.

– Bom dia?! O que houve com você ontem, Joana? Fiquei aqui te esperando, cheguei atrasada no trabalho e você não aparecia!

– É que morreu um vizinho meu, acidente de carro…

– Mas ô, Joana, quando for assim tem que avisar, a gente fica aqui pensando o pior.

– Foi horrível…

– Não precisa chorar, Joana, entendi, só estou te pedindo pra avisar.

– Sim, senhora. Desculpe.

 

– Bom dia, patroa.

– Bom dia?! O que houve ontem, Joana? Já é a segunda vez que isso acontece, eu fico aqui esperando e você não aparece? Segunda-feira é um dia pesado pra mim, não posso ficar sem você, preciso me preparar se isso for acontecer.

– É que morreu um primo meu, briga no baile.

– Joana, já te falei que tem que avisar. Entendo que seja seu primo, que você precise ficar com a família, mas precisa me avisar. Você tem meus telefones, o daqui de casa e o celular.

– Um cara mexeu com a namorada dele e ele foi tirar satisfação.

– Sei que é triste, Joana, mas tem que me avisar, tá bom?

– Sim, senhora. Desculpe.

 

– Bom dia, patroa.

– Bom dia?! Ô, Joana, já te avisei diversas vezes que não posso ficar sem você aqui na segunda, Joana, então você tem que me avisar.

– É que minha vó morreu. Fez o almoço de ontem, a família toda na casa dela, sentou na mesa e morreu.

– E você não tinha como avisar?

– É que foi um susto muito grande. Ela tinha sentido umas dores de manhã e minha tia queria levar ela no médico, mas ela não quis. Na hora do almoço a dor voltou e ela morreu.

– Ô, Joana, não fica assim, sei que é triste, mas poderia ter me avisado, essa situação tá ficando insustentável.

– Vou fazer isso mais não. Desculpe, patroa.

 

– Bom dia, patroa.

– Bom dia. Quem morreu dessa vez?

– Meu marido.

– Seu marido?! E você nessa tranqüilidade?

– Eu que matei.

– Você?!

– Não tinha morrido ninguém. Como eu ia explicar a falta pra senhora?

 

Gustavo Burla