Sem som, ar estático, instante congelado. Parou de tricotar. Queria sentir como o ambiente tinha mudado depois que eles começaram a trabalhar.
Barulho, tensão e brigas, movimento frenético. TV ligada no canal católico para reforçar as constantes rezas mentais. Desejava que eles se ocupassem, começassem a construir a história e o futuro…
Batidas fortes no peito, respiração ofegante, tremores. De repente, sentiu uma vertigem, um medo, um terror. Conforme acontecera com a mãe, agora era a sua vez.
Vai-e-vem alucinante de desconhecidos, fumaças claras de odor forte, a chegada dele em câmera lenta. Que falta fazia! Seu marido por mais de meio século estava na sua frente, sorrindo… Levantou-se para ir com ele. Era o fim!
– Vó! Acorda! Hora de pingar o colírio!
José Eduardo Brum
“Tv ligada no canal catolico para reforçar as constantes rezas mentais…”
(me pergunto se isso adianta…)
Mas o colirio! uheuhe muito bom!