Cápsula

Cápsula

 

Às vezes, eu queria fumar. Com apenas um ato, afastar-se do mundo, isolar-se num canto só seu e, através dos tragos e da fumaça, aliviar-se das dores, indignações e inadequações.

Fumar seria um escape, um momento meu de charme. Quase um coito pessoal que não aceita ser partilhado. Não gostaria de fumar em rodinha de “amigos”. Prefiro a individualidade solitária.

Por poucos minutos que se pareceriam horas, diminuiria minha tensão, relaxaria os músculos, deixaria a fumaça imprópria percorrer o corpo imperfeito. Fumar seria o meu ato prejudicial ao meu ser. Eu o estaria estragando, e não os empregos, a família, as horas, as preocupações.

Segurar o cigarro me daria segurança de dominar meu próprio futuro. Naquele momento, só existiria eu comigo mesmo. Nada atrapalharia. Além do mais, reforçaria meu lado sexy fatal, me sentiria uma estrela imponente que exala segurança e sexualidade avantajada.

Só queria fumar… Só queria ter um momento só meu.

 

José Eduardo Brum

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