Bubblegum

Bubblegum

Durante o verão inteiro, para onde quer que olhasse, a primeira coisa que via eram unhas. Rosas, amarelas, alaranjadas. Berrantes. Na praia, de férias, biquínis pediam espaço para esmaltes de brilho neon, contrastando com as peles bronzeadas de meninas e mulheres que desfilavam pela areia. Coxas à mostra, bundas seminuas, barrigas definidas, top lesses atrevidos, celulites, estrias… ao contrário de outras versões da estação mais quente do ano nada disso chamava tanta atenção quanto as cores cintilantes, cegando os banhistas ao sol. E ela lá, a pele muito branca e base incolor nas unhas curtíssimas, posando de invisível à beira-mar.

Pensou que era modismo de litoral, mas, de volta para o interior, a atração era a mesma. No único e concorrido shopping da cidade, as lojas ficavam vazias (a crise estava brava!), mas os corredores se abarrotavam de unhas fluorescentes, zanzando de um lado para o outro, entontecendo os poucos que por um motivo ou outro não tinham aderido à onda fashion e, por isso, ainda não haviam acostumado os olhos a tanta luz. As férias acabaram, as galerias do shopping se transformaram nos corredores do colégio, e mesmo assim as cores delirantes persistiam.

Até o dia em que, cansada de se sentir transparente, resolveu se arriscar também. Parou numa lojinha de cosméticos perto de casa e pegou o primeiro vidrinho de esmalte na cesta de promoções que encontrou. Rosa-chiclete. No dia seguinte seria a sensação da escola.

E foi. Assim que entrou na sala de aula, suas unhas sempre tão discretas berraram diante das mãos das colegas, todas com esmalte azul-escuro. Começara o outono.

Táscia Souza

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