Pouco a pouco

Pouco a pouco

Uma fixação nunca parte de você, parte de outra pessoa que nota um comportamento recorrente, uma coincidência despercebida. Foi assim que começou comigo. Eu estava numa típica roda de amigos, quando uma colega contou que teve um sonho bizarro. Um a um relataram seus sonhos mais surpreendentes. Eu ri, nervoso e agitado. Menti que tinha vergonha, disfarcei. Na verdade, eu nunca havia sonhado.

Exatamente. Nunca, nos meus vinte e poucos anos, havia sonhado. Nem pesadelo, nem sonho louco, nem histórias loucas. Não me lembro de nada. Não tenho memória onírica. O que há de errado comigo?

Fiz simpatia, conversei com psicólogas, fui a uma sessão espírita. Eu estava apelando pra tudo. Queria sonhar, queria escapar da realidade e me perder em imagens que só eu veria e não compartilharia com ninguém. Precisava sentir que por alguns minutos eu não era eu. Como devia ser a sensação de voltar e perceber que aquilo nunca ocorreu?

Até que um dia tive meu primeiro e único sonho. Não sei como foi, só sei que tive. E a última frase era profunda, de veludo, retumbante: “Você, quando dorme, não sonha. Você morre por algumas horas”.

Viu? É por isso que eu não gosto de contar isso. Vocês sempre riem. Nunca se compadecem. Não sonhar é sério, muito sério.

José Eduardo Brum

One Response

  1. José! Cara, como eu estava atônita por alguma atualização sua. Em um ato de felicidade, percebi nas primeiras páginas desse blog que as suas escritas me despertavam as emoções. Quando percebi que havia o seu nome, e suas respectivas escrituras na barra lateral, direita, amei! Cliquei em seu nome, e a partir de então, li TODOS os seus posts. Lembra da história da Van? – eu curti (:

    Amei muito tudo! Muito, sério! Suas histórias possuem uma pitada de suspense. É bom sentir isso.

    ATT, uma fã. hehe