Tinha talento, mas ninguém sabia. Nem ele sabia. Imerso num mundo de fantasia, via imagens desconexas e irreais, vivia construindo situações ficcionais que nunca, absolutamente nunca, eram compatíveis com a realidade. Era surpreendente o destoo, mesmo que não fosse satisfatório.
Em ciclos, as sensações se repetiam, cada uma desempenhando um papel certo, preciso e intenso. Entravam e saiam de cena com uma perfeição delicada e mascarada como um bom teatro se baseia. As luzes se ascendiam e se apagavam, cenários adentravam e se retiravam, figurantes ficavam, passavam e sumiam. Ele não mudava.
Como um foguete recém-lançado que carrega tremenda magnitude e fraqueza, gravitava em diferentes órbitas que só aumentavam o sentimento de loucura, vagueza e inexistência. Se tudo evolui, se tudo se modifica, no caso dele, a fraqueza era mais forte, certeira de que deveria permanecer arraigada nos recôncavos mais imbricados e fortificados da essência.
Onde está o laço? Onde está a insustentável leveza de Kundera? Tudo é fardo, não fado como a música portuguesa. O tão temido ato, que corajoso pra si, mas egoísta para os outros, não se afastou, pelo contrário permeia a cabeça e a esperteza.
Você diz que vê as pétalas caírem, Eu só vejo a tristeza se esvair a cada respiro. Fujo. Sim, fujo. Sim, corro, mesmo que seja na esteira suja e preta que mais reflete os caminhos e os pés que a golpeiam. É suficiente, algum valor já denotara e percebera.
José Eduardo Brum
Meu caro amigo Brum. Você me desafiou a entender suas precisas palavras. Confesso que fiquei meio perdidão.