O pote vazio

O pote vazio

Antes de se sentar diante do computador, abriu o armário de segredos e pegou o pote em que, desde menina, costumava guardar ideias. Fazia meses que não remexia nos velhos guardados, anos talvez, impedida pelo mesmo tempo (ou falta dele) que agora enferrujava o pequeno potinho de metal.

Destampou-o com cuidado, com medo de que o conteúdo fugisse como vinha fugindo de sua cabeça. Ali dentro havia depositado alguns planos, uma dúzia de sonhos, várias dezenas de esperanças, por toda uma vida. No entanto, o que encontrava era uma grossa camada de bolor.

Assustada, pegou um pano úmido e tentou se livrar daquele mofo, sem sucesso. Depois, uma escova de cerdas duras com um pouco de vinagre e nada ainda. Apelou para um tanto de cloro, mas, na medida em que o limo se dissolvia, as ideias também se esbranquiçavam e clareavam mais e mais, até sumir.

Quando o pote ficou completamente vazio, sem fungos nem desejos, colocou a tampa de volta e prendeu o ar.

Táscia Souza 

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