Catarse

Catarse

Ele vivia deprimido. O sono só vinha à base de antidepressivos, depois de, resistentemente, apagar a tela luminosa. Até que se deu conta de que desperdiçava tempo demais na internet. Sem reparar como havia acontecido, tinha se afastado da família e dos amigos. Uma lástima!

Percebeu que há muito tempo não sentia o ardor do sol sobre a pele, a brisa ao andar de bicicleta, a alegria de bater papo na calçada de casa até tarde da noite, a boa companhia de um livro. Havia se perdido!

Tomou consciência de que aquela vida on-line jogada na sua cara e na das outras pessoas era rasa demais. Exposição de futilidades, ostentações e arrogâncias. Decidiu-se: excluiu sua conta do Facebook.

Desde então os emojis viraram emoções reais. Os likes, abraços apertados. Cada post, afeto a ser partilhado.

Reencontrou-se! Fluoxetina, Paroxetina, Citalopram, Escitalopram e Sertralin. Todos desceram pela privada! O sono voltou a chegar, mansinho, a cada página virada.

Marcos Araújo

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