Conspiração Quantum

Conspiração Quantum

A situação preocupava a comunidade científica. Era velada, sussurrada pelos corredores dos centros de pesquisa, cochichada nos intervalos das conferências, e assim mesmo interdita, o que só tornava os acontecimentos ainda mais inquietantes. Embora as conclusões não fossem fruto de fundamentos teóricos e metodológicos de investigação, tampouco de estratégias de processamento de análise de dados, eram enigmaticamente — e talvez exatamente por isso — perturbadoras.

Alguém — ou alguma organização — pelo globo assassinava físicos.

O primeiro a morrer fora um pesquisador de epitaxia por feixe molecular, que se dedicava ao aprimoramento tecnológico de dispositivos optoeletrônicos. Fora encontrado já frio em seu laboratório, olhos arregalados de pavor, mas a perda de um professor seminanônimo de uma universidade obscura da América Latina, a princípio, não importou. A partir dele, contudo, teve início uma sequência: astrofísicos, doutores em mecânica relativística, teóricos do caos. Norte-americanos, asiáticos, europeus. Professores de ensino médio. Ganhadores do Nobel. 

Uma conspiração.

Serviços de inteligência do mundo inteiro foram acionados, sigilosamente, para não alarmar a mídia nem a população. Suspeitava-se de alguma organização terrorista, conjecturava-se sobre uma possível contaminação nanonuclear, temia-se a possibilidade de que aquilo fosse o princípio de uma guerra subatômica. Não passavam de hipóteses sem chance de verificação, sem prova ou contraprova. Polícias secretas não resolveram. Governos nacionais não resolveram. Os maiores cérebros da ciência do planeta não resolveram. 

À beira de um colapso e a despeito do temor de um atentado, a Iupap (sigla para International Union of Pure and Applied Physics) convocou seus membros para um congresso clandestino e emergencial, no qual lançaram mão da expertise do único especialista em problemas aparentemente insolucionáveis que ainda não havia sido consultado: um coach. Renomado internacionalmente, sua proposta era submeter a plateia de cientistas a um alinhamento quântico, liberando, segundo ele, crenças limitantes, através da plasticidade mental e hipnose quântica conversacional. A cada vez que as palavras quântico ou quântica eram pronunciadas pelo guru contemporâneo, no entanto, mais um prodígio da ciência presente no plenário caía morto.  

Uma chacina. De proporções quânticas. 

Táscia Souza

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