Com muito açúcar

Com muito açúcar

Os livros eram de adolescente, isso tinha vergonha de confessar. Por isso criou um pseudônimo qualquer para participar do fórum de discussões sem ter que revelar para todas aquelas menininhas sonhadoras que os romances que as mulheres lêem aos quinze anos costumam ser bem diferentes daqueles que vivem aos trinta. Ali, maquiada pelo nome inventado e pela balzaquiana idade não-revelada, podia soltar a imaginação faminta de histórias de amor açucaradas e com previsível final feliz.

Começou escrevendo outras versões dos mesmos livros, narrados sobre a ótica do personagem de maior apelo entre suas jovens companheiras de delírio. Depois, partiu para as continuações, atiçando a curiosidade das incansáveis leitoras. O número de garotas fanáticas que acompanhavam suas histórias emprestadas foi aumentando; semanas depois apenas e seu fake já tinha mais amigos no Facebook e mais seguidores no Twitter do que ela conseguira angariar em todos os anos de dedicação internética. Por fim, já sonhava com um livro só seu, que venderia milhões de cópias em todo o mundo, ganharia uma adaptação bem hollywoodiana e arrastaria fãs histéricas aonde quer que passasse.

Foi quando o noivo, há dez anos cozinhando-a em banho-maria, sentiu o temor de perdê-la para aquele ambicionado e ultracalórico futuro e resolveu pedi-la em casamento. Ela nem pestanejou: deu um tempo no cardápio de romances de quinze anos e preferiu a dieta dos trinta.

Táscia Souza

3 Responses

  1. (Caralho! Minha preferida, sem dúvida! – arrasou esse texto: bárbaro!!)

    “Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
    Pra você parar em casa, qual o quê!”

    Thell

  2. Um único som fica assim, congelado entre a garganta e lábios, mesmo amarrado, apertado… Um nó!

    Um beijo, flor!