Imprescindível, se tava assim na convocação devia ser redundância, mas serve mais de susto. Cheguei na hora, mas cadê todo mundo? Deve tá chegando, pronto, mais um… dois, mais dois. Vou sentar ali no canto, dá pra ver um filme. “Queria agradecer a presença de todos…” Droga, vizinho, não posso nem ligar o computador. Posso sim, um texto, escrevo um texto qualquer, leio qualquer coisa, minha mesmo, falo que é trabalho. Isso, concentrado, começou, tá quase todo mundo, pronto, todo mundo. “Vamos organizar nosso cronograma para…” Será que vai chover? Tenho guarda-chuva no carro. Mas o carro tá na chuva. Cheiro de bolo. Deve ser perto. Chocolate. Ninguém trouxe biscoito. Café tem, sempre tem, mas não gosto de café. E levantar pra pegar chama atenção, vão olhar pra mim, pedir opinião. Quero ver um filme, uma série. Só ver, não preciso nem de ouvir. Tenho vizinho. Saudade da minha vó, vou ligar pra ela depois, agora não, tenho que continuar lendo. Fingindo. Vizinho foi ao banheiro. Facebook, boa. Quase nenhum recado, ninguém me curte. Vou ver se tem alguém online… Fulano… Beltrano… Merda, será que ele me viu? Vou sair. Vou nada, ele tá na mesma reunião que eu, que se culpe. Ninguém interessante, melhor sair, vizinho voltando. Também quero fazer xixi, mas se fizer relaxo e durmo. Ficar tenso é melhor, até o limite. Essa noite dormi mal, será que vai ser melhor hoje? Vou tomar um uisquinho antes de deitar. Tenho queijo na geladeira. Deve tá velho. Queijo pode ser velho, tem problema não. Só queijo com uísque sustenta? Um docinho ia ser bom, glicose, dá pra tomar mais uísque, relaxar mais, e acordar melhor amanhã. E mais tarde, amanhã é sábado. Hoje vou fazer… “Alguma dúvida?” Não, vamos embora e amanhã o sol nascerá no leste, como hoje. Talvez um pouco mais pro norte ou pro sul, mas tudo por influências cósmicas, nada a ver com a reunião.