Carnívoro

Carnívoro

Churrasco, corte, espeto, filé, ponto, peça, pedaço, quilo, escondidinho foram palavras que cresceram com ele. Era como se tivesse mamado sangue, comido papinha de tartar e levado hambúrguer duplo de merenda. Sua carne era feita de carne. Cresceu leão, feito de carneiro assimilado.

Das carnes nobres foi obrigado a migrar para outros cortes, variando os animais, mas jamais abrindo mão. Vendeu airfryer, microondas, televisão, geladeira, fogão, mas não deixou de comer carne. Sem sofá, mesa, cadeira, tapete e cômoda, prestes a cancelar a internet, resolveu vender um rim.

Negociou, calculou os anos de açougue, estipulou as porções diárias e antes da anestesia perguntou:

— O fígado é perto do rim? Se for, tira metade, por favor, que faço isca acebolada quando acordar.

Gustavo Burla

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