Fausto Wolff

Fausto Wolff

 

Foi ele quem iluminou a palavra eu e me fez franzir o cenho diante dela e diante de tantos blogs que falam ao analista. Ironicamente, como muito ele também era, é falando eu que falo ele, e falando ele mostro uma parte do eu.

 

Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Não lembro o ano, 1997 talvez. Dois livros de lombada grossa e negra, com letras em vermelho. Um deles, recomendado por Stephen King, o outro com a capa bonita, uma pintura revisitada. Guloso, comprei os dois e li nesta ordem. Do primeiro lembro de espasmos, do segundo, cada detalhe. Demorei muito para ler, não queria passar a página temente de chegar mais perto do fim.

 

Foram tantos livros depois daquele, todos magníficos, de uma oralidade tão íntima quanto as colunas nos jornais, mas o totem, o marco, o titã permanecia o primeiro. Um dia emprestei para uma amada e num conflito ela quis devolver; rasguei a última folha (a pressão caiu, tremi, perdi o controle como jamais antes) e afirmei: quando terminar de ler me devolve e, então, a gente termina.

 

Com ela fui certa vez ao Rio de Janeiro e caminhamos por Copacabana discutindo: onde será que ele mora? E pelas descrições paramos diante de um grupo de jogadores de dama, escrutinando cabeça branca a cabeça branca, procurando pela mais alta. O medo e a curiosidade foram vencidos pela vergonha intelectual e a tietagem foi inibida, voltamos a andar e falar dele. Quem sabe se tivéssemos perguntado?

 

No sebo procurei os antigos, nas livrarias os novos e contava para os amigos, que se agregavam a esse prazer literário. Aprendi literatura e jornalismo, política e arte, história e vida com esse olimpiano que, depois de tanto fazer o contrário, agora contribuiu para que o mundo ficasse mais burro.

 

Comprei uma nova edição daquele livro, para mim o primeiro, e as lágrimas que economizo nestas palavras enrugarão as páginas. Ao amigo que não conheci, um abraço.

 

 

Gustavo Burla

 

 

Publicado originalmente em http://hipocondria.blog.terra.com.br, 16 de setembro de 2008.

Comments are closed.