Começam, caem e secam por si só

Começam, caem e secam por si só

A Badu

De repente, meu mundo mudara. A pré-adolescência com traços de infância havia se transformado em maturidade, embora só fosse perceber anos mais tarde. Aquele que protegia precisava de cuidados.

Os tios moravam fora, contribuíam, portanto, financeiramente. Talvez não tivessem jeito, paciência ou disposição. Os outros primos eram novos, foram poupados. As mulheres e eu seguramos os corrimões e as bengalas. Fazíamos o máximo, mesmo que parecesse mínimo.

Santa Luzia, por que permitistes que outros sofressem como ti? Por que não nos ajudaste? Como fizeste para que sua vista fosse recuperada? Santa Luzia, por favor, opera um milagre!

Treze anos depois, era eu quem estava testando a visão para renovar a carteira. As lembranças e as sensações despertaram-se. Pela emoção ou pelo desgaste, as letras sambavam, não as via corretamente. Teve de forçar e arriscar. Os fortes também fraquejam.

No retorno para casa, sentia falta de pertencer a um organismo familiar, de ter competências, obrigações. Estava por conta própria. Mesmo sem enxergar, ele foi um dos poucos que me acolheu entre as asas, sem medir ônus. Via em mim força e capacidade que sabiam se gerenciar, mas que também precisavam de reparos e cuidados.

Meu choro lembra muito o choro dele. Como doía lembrar e encarar aquelas lágrimas. Os fortes também choram. Santa Luzia, tu também choraste?

José Eduardo Brum

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