Pijamas

Pijamas

para A.D. e F.S.

Em casa, a primeira coisa que fazia era colocar pijamas, exceto quando acordava, pois já os tinha. A juventude trouxe alguma responsabilidade e ficava cada vez mais tempo fora de casa, até começar a trabalhar, quando passar a tarde de pijama sob as cobertas tornara-se seu verdadeiro e maior prazer.

E só dormia de pijamas. Uma roupa levinha ou uma camisola, nunca, só pijamas. Era entrar em casa e pronto, era como se estivesse ali desde o amanhecer, inclusive a cara de preguiça. E tão grave quanto manter-se em roupas de fora dentro de casa era a palavra casamento, que poderia romper com tudo isso, mas apaixonar-se não estava entre as capacidades controladas e acabou deixando-se levar.

Ele, ao contrário, não saía sequer do quarto sem se arrumar, e não bastava uma roupinha de ficar em casa à vontade, arrumava-se como se fosse sair a trabalho. Gostava de estar sempre bem vestido, nunca se poderia prever o instante seguinte, pensava. Ele até gostou da menina com cara de preguiça, mas apaixonar-se mesmo só conseguiu quando já tinham uma relação daquelas sem nome e ela lhe deu de Natal um pijama que mais parecia um smoking, todo estilizado.

Se completam, dividem a mesma casa, cada um a seu traje, e ele parou de se preocupar com a possível vontade noturna de ir ao banheiro.

Gustavo Burla

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