Sempre no topo

Sempre no topo

Acompanhei a vida de Mino sem querer. Ele vivia na minha rua, nossas mães eram amigas. Mas de alguma forma tal empatia não atingia a nós dois.

Eu não era popular, tinha apenas uma rodinha de amigos. Mino não tinha ninguém, não se relacionava com as pessoas. Ficava isolado, focado em si mesmo, não existia em sala. Porém, tirava notas altas. E nunca um sorriso era esboçado ao receber a prova.

Paramos na mesma universidade, nos víamos apesar dos cursos um pouco distintos. Ele permanecia insensível, um ponto inanimado. Mesmo assim, comparecia a festas da turma. Numa dessas, eu reparei que ele não estava bem. Dançava desajeitado, as pessoas riam dele. Tinha virado o espetáculo, falando sem se fazer entender, derrubando bebida. Para mim, ele havia sido drogado. A sacanagem humana não tem precedentes.

Eu o levei para a minha casa. Ele passou muito mal. Aos poucos, ia soltando algo sobre si. Disse que era doente. Sempre foi. Eu não dei muita confiança, nunca tinha ouvido algo a respeito de doença. Depois compreendi.

Mino era insatisfeito por dentro. O estômago constantemente cheio não saciava. O melhor desempenho acadêmico era irrisório. O copo sempre cheio não acalmava. O bom e o ruim das pessoas deixavam a desejar, não o surpreendiam. Por isso, ele era avulso. Ninguém conseguia ser algo mais na vida dele, todos eram passageiros, ele sempre esperava que outros melhores viriam.

Aquilo me sufocou. Tive pena de Mino. Por quanto tempo ele mantém essa ilusão? Como é não se apegar a alguém?

Bati nele, dei uma surra enquanto ele estava bêbado. Queria que Mino sentisse algo. Na verdade, quem sentiu fui eu. Passei a amá-lo, a querer cuidar dele, a melhorá-lo. Mas como consertar a essência de alguém? Ainda mais quando ela não quer ou não tem controle?

Assim, permanecemos sós. Este não é o destino de todos?

José Eduardo Brum

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