Do mesmo jeito

Do mesmo jeito

Por ser chorona, ela sabia bem a dificuldade que a maioria dos seres humanos tem de lidar com as lágrimas. Desde criança. Na festinha da escola, ainda no maternal, chorou durante o recital de versinhos que lhe deram para decorar. A professora endoidou, achou que ela estava com medo, com dor de barriga, que tinha esquecido as palavras e por isso talvez estivesse vazando desespero. Ninguém atentou para o fato de que ela chorava porque a mãe, sentada no meio da plateia, também chorava. E pela vida afora seria sim: a cada vez que a mulher chorasse – de emoção, de dor, de tristeza, de alegria – ela choraria também.  Do mesmo jeito.

No último ano da escola o namorado ligou dizendo que precisavam conversar. Ela respondeu precisamos e esperou que ele atravessasse a cidade com o choro preso, ardendo na garganta. Quando olhou nos olhos dele, mais de uma hora depois, não precisou que nenhuma palavra fosse dita. Só chorou. Mesmo em silêncio, machucava do mesmo jeito.

Teve o outro namorado, o da faculdade. Encontraram-se numa lanchonete e bastou olhar para ele para começar a chorar. Parece que eu é que estou terminando com você, sorriu ele, meigo e triste, tudo ao mesmo tempo. Era ela quem estava. O que não significa que não doía do mesmo jeito.

Quando pediu demissão do primeiro emprego, a festa de despedida foi uma choradeira só. Colegas a abraçavam, como que a consolá-la, e murmuravam não fica assim, vai ficar tudo bem. Ela revirava os olhos e pensava que é claro que ficaria tudo bem, a opção de sair afinal tinha sido dela. Ninguém entendia que lágrimas, ainda que não sejam de tristeza, teimam em cair do mesmo jeito.

Táscia Souza

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