Antídotos ou a arte de se soltar

Antídotos ou a arte de se soltar

Não tenho como enviar uma carta, apesar de saber o endereço. De qualquer forma, não chegaria a tempo. Como os personagens de Austen, queria utilizar da propriedade de palavras bem escritas e verdadeiras para expressar o meu carinho, a minha gratidão, o meu vislumbre.

Meu diário se torna, então, o destinatário que infelizmente não responde.

A internet pode ser veloz, porém não dialoga com meu velho amor. Ela não gosta de digitar, não se interessa por navegar. Não me atende nas chamadas virtuais. Não sei se por causa dos botões, já que o vermelho de recusa contém um telefone, ao contrário do azul que não traz qualquer referência conhecida. Ou talvez seja a conexão. Qual das duas vias tem problema? Talvez somente a do coração.

O blog virtual, portanto, ganha status de pessoa física. No entanto, não expressa retorno.

Não há telefones públicos perto de mim, não comprei um celular porque não preciso me comunicar com ninguém por enquanto. Quero apenas ela, nesse momento especial, e poder escutar sua voz autoritária e repreensiva pra acalmar minha angústia.

O rádio é escutado para que o ouvido também não sofra e não se atormente com o silêncio. “Eu te amo você não precisa dizer o mesmo não.”

José Eduardo Brum

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