Começou ao entrar no estádio. O coração acelerou, querendo dissolver-se e vazar por entre as costelas. Na hora do hino – cantado, bradado e chorado a milhares de vozes à capela –, o músculo cardíaco deu mais uma falhada, fazendo-o levar a mão ao peito. No passe do meio-campista para o centroavante, a taquicardia combinou-se a uma súbita falta de ar, seguida de suor frio e uma dormência que se espalhava pelo braço ansioso por se erguer e vibrar o gol.
Saiu da arena às pressas, de ambulância. O médico de plantão no setor de urgência mal teve tempo de colocar o jaleco para cobrir o escudo estrelado na camisa. Era um olho no exame e outro nos acréscimos do segundo tempo.
– Foi um infarto, doutor?
– Não exatamente…
– Tenho alguma anomalia?
– Anomalia não, mas…
– O quê? Pode dizer, doutor! Não precisa me poupar.
– Bem, é que seus átrios e ventrículos são… verde-amarelos. Isso não consta em nenhum livro de cardiologia! Nunca pensei que coração brasileiro fosse mais que uma figura de linguagem.
– Mas e agora, doutor? Eu disse que o senhor não precisava me poupar…
– Ah, quanto a isso não se preocupe. Ganhamos o jogo.
Táscia Souza