A grama do vizinho pode ser sua

A grama do vizinho pode ser sua

Exatos 364 dias separavam os dois nascimentos. Davi veio no dia 19 do mês das brumas. Johnatan, no dia 18 do ano seguinte. Moravam a duas casas de distância, acompanhavam os pais futeboleiros na pelada da rua, as mães eram professoras de longa data na mesma escola. Não era surpresa que se tornariam grandes amigos. Até que foram separados. De repente, Johnatan, mais inteligente, foi entregue ao ensino particular, a mais de 30 km de onde morava. Tantas responsabilidades fizeram-no ficar sempre dentro de casa, tendo a TV como escape. Davi permaneceu na simplicidade interiorana e pública, gozando de liberdade e tranquilidade. Apesar de tanta proximidade, a falta de contato só aumentou as incongruências até que nem mais se convidavam para os respectivos aniversários. Apenas sabiam um do outro pelos comentários que os pais trocavam no trabalho, na Igreja ou no futebol. Foram para a faculdade na mesma capital, mas nunca se esbarraram. Davi optou por se formar e voltar como nutrólogo dos idosos. Johnatan pertencia ao turbilhão, virou funcionário público e artista plástico de hobby. Estavam estabilizados e satisfeitos, menos as próprias famílias. A de Johnatan queria mais calma, frequência e interesse pelas origens. A de Davi não se conformava com o retorno para o interior, pela falta de ambição e passividade. E não se cansavam de externar o desagrado. Por isso, resolveram reaproximá-los. Após discursos e brigas, quem sabe um não influenciava o outro. Deu certo. Aos olhos de todos, amizade retomada: Johnatan aparecia mais em casa, Davi viajava nos fins de semana pra curtir a vida. Na verdade, viraram namorados.

José Eduardo Brum

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