Balões

Balões

Os balões não esticavam os barbantes, flutuavam a meia altura. Nem caíam, como os soprados em casa, com a boca; nem subiam, como os que se soltavam e voavam até o céu. Eram balões a meia altura e ela os conduzia pela praça no meio da manhã. Todos os meios de manhãs de todos os dias da semana, ela conduzia seus balões a meia altura pela praça.

Devem estar murchando, amanhã não os terá mais. diziam alguns. No dia seguinte, lá estavam eles, por vezes com as mesmas cores, de vez em quando em cores diferentes, como se aquele pacote tivesse acabado e ela não encontrasse do mesmo na loja de festas.

Moça, quanto é o balão? perguntava uma eventual criança, ao que ela respondia, constrangida, que não poderia vender, mesmo que os balões fizessem suaves movimentos na direção do infante. Um tanto incomodada, ela seguia, sempre com os balões a meia altura.

Havia quem a ouvisse conversando com os balões, mas estranho mesmo era o comentário de quem passava ou morava perto da casa dela: parece que tem mais gente lá, que a casa tá cheia. Realmente, uma barulheira, mas ela aparecia na janela ou na porta sempre que alguém parava à espreita, como se soubesse que havia alguém ali.

Um dia, um dos velhos rabugentos que joga dama na praça resolveu perguntar: por que passeia com esses balões? São meus filhos, respondeu a mulher. Ele riu: e se eu estourar um balão? Não faça… Tarde demais: balão estourado, ele involuntariamente inspirou com força e saiu pulando feito criança, subiu nos brinquedos, voou no balanço em logo estrepou-se no chão, coração parado, inflado demais com tanta vontade de viver.

Ela voltou pra casa com um balão a menos e por lá ficou dias, até sair no cair da tarde com balões flutuando a menos de meia altura, balões arrastados pelo barbante arrastado por ela. Balões pretos.

Gustavo Burla

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