Luto

Luto

Na cidadezinha, ela era conhecida como a mulher que vivia de luto. Perdeu o marido na guerra, uns diziam. O filho se meteu com essas coisas de comunismo e nunca mais voltou, sussurravam outros. Em nenhum dos dois casos, porém, havia corpo. Pode o luto representar uma tristeza sem corpo?

Quaisquer que fossem as histórias verdadeiras, o que a cidadezinha inteira não percebia era que o que doía nela não era a morte; era a vida. O que lutava nela era a vida.

Essa daí vive de luto, cochichavam, sem notar que, na verdade, ela preferia morrer na luta.

Táscia Souza

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