Nervosismo sim

Nervosismo sim

– Se joga – ele sussurrava.

Toda vez acontecia isso. Ela travava de tal maneira que não conseguia controlar as ações de seu corpo. A perna bambeava, a mão suava, a barriga doía e a boca tremia.

– Impossível Maria – dizia seu diretor. – Trinta anos que você faz teatro e em toda estreia acontece isso com você.

Nunca deixara de fazer uma peça, nem nunca causou um atraso. Quando tocava o terceiro sinal, fazia tudo perfeito. Mas as duas horas que antecediam este momento eram marcadas por puro nervosismo.

De tanto o diretor brigar, procurou um analista. E apelou até para certos artifícios da medicina tradicional.

Resolveu. Nunca mais se sentiu nervosa.

Mas também nunca mais subiu em um palco.

Com a falta de ansiedade, faltou também o encanto. E o compromisso. Atrasou-se, cansou-se, errou e levou bronca. O nervosismo transferiu-se para as duas horas que antecediam seu momento de dormir.

Mariana Virgílio

Comments are closed.