Cinema e cartaz

Cinema e cartaz

Foi pro cinema como ia pra feira: rotina. Sempre que começava filme novo lá estava ele. Se pudesse comprar antes, pela internet, nem enfrentava fila. Chegava cedo mesmo assim, pra sentar no melhor lugar. Via o filme antes de todo mundo, ou junto com os primeiros. Naquele dia era pré-estreia, não poderia perder.

Chegou meia hora antes na sala, entrou e sentou. Ficou lendo enquanto ouvia o movimento do público. Viu os trailers e as propagandas, depois um dos melhores filmes do ano. Quase riu, quase chorou, quase aplaudiu no final. E alguém chamou pra tirar umas fotos com uns cartazes de política. Não se sentiu obrigado, levantou e saiu antes. Gritaram umas coisas pra ele, mas não deu ouvidos.

Que cartazes? Que gritos? Não achava nada daquilo certo no cinema. Depois, em casa, viu as notícias. Eram cartazes contra a fome, e ele detestava a fome. Eram cartazes contra a injustiça, e ele detestava a injustiça. Eram cartazes contra a ilegalidade, e ele sabia que a lei deveria funcionar. Eram cartazes a favor da cultura. Da cultura!

Era tarde, não tinha ficado. Não tinha segurado os cartazes. Não tinha participado da foto. Lamentou e seguiu na leitura do jornal. Na página de cultura descobriu que o filme entraria em cartaz na semana seguinte, quatro exibições por dia. Começou a bolar as frases que seguraria, uma para cada sessão. Nunca era tarde demais.

Gustavo Burla

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