Manicure

Manicure

No footing de domingo em torno da praça da igreja matriz, Marlene mantém sempre as mãos entrelaçadas às costas. Cabeça baixa, tem vergonha dos dedos permanentemente pretos da nódoa das folhas de fumo que estala a tarde toda na lavoura do pai. Boa moça, guarda dois pequenos pecados: um é a inveja das unhas tão bem feitas das moças da cidade. Às vezes, caminhando entre elas, divaga sobre como seria bom enfiar espetos de bambu por baixo daquelas garras acetinadas, descolando-as das carnes, e depois mergulhar as mãos ensanguentadas das jovens madames em uma solução de limão e pimenta malagueta por quatro ou cinco minutos.

E esse é o segundo pecado de Marlene, pelo qual pede perdão toda missa de domingo, liberando-se assim para odiar outra vez.

W. Del Guiducci

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