Produto não disponível

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A loja vendia órgãos de (quase) todos os tipos e tamanhos. Pulmões novos prontos para serem inflados de oxigênio puro. Estômagos com capacidade volumétrica adequada a seis refeições moderadas por dia e medidor de suco gástrico para evitar inflamações e ulcerações futuras. Fígados à prova d’álcool. Rins com dupla filtragem, purificadora e ozonizadora. Bexigas com tecnologia autoesvaziante. Intestinos delgados e grossos a metro, com selo de garantia antiobstipação. Cérebros com processador de última geração e cache de memória de alto desempenho.

O comerciante só não tinha encontrado ainda um fornecedor de corações eficiente. Já tentara os de papel, mas esses eram tomados por emoções rasgadas demais. Os de gesso se partiam com facilidade. Os de cerâmica, embora mais resistentes, não estavam imunes a arranhões profundos. Já os de pedra eram tão duros que não preservavam bem sentimentos perecíveis como solidariedade e compaixão.

Por isso, resolveu experimentar os de carne mesmo, ainda que exigissem um grande trabalho de conservação. As vendas, a princípio, foram boas, porque todos queriam um exemplar daquilo que mais andava em falta no mercado. No entanto, passadas poucas semanas, os produtos, considerados defeituosos, foram sendo devolvidos um a um. Nenhum deles tinha certificação contra dores de amor.

Táscia Souza

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