Ponto de referência

Ponto de referência

para Márcia e Lúcio

Ele conhecia as cidades pelas quais passava por seus botecos preferidos. Em Três Moinhos, o Moinho d’Água, que servia a mais famosa porção de angu frito, feito com fubá da roça, da região. Em Santo Antônio da Saudade, o Saudade Danada, de cuja cachaça dourada sentia exatamente o que o nome do estabelecimento previa. Em Caldas Quentes, lembrava que queimara a língua duplamente com a mistura de aguardente com caldo de feijão.

Numa viagem, porém, o carro achou de estragar bem na entrada de um vilarejo onde não havia um botequim sequer. Restaurante tinha. Apesar do tamanho diminuto da vila, havia até um gastrobar, como estava na moda nos grandes centros. Mas boteco, que era o que interessava, não. Nenhuma mesa ostentando uma marca popular de cerveja, nenhuma estufa com carne ou batata assada, nenhum comerciante atrás do balcão com um palito de dentes na boca e a caneta atrás da orelha.

Frustrado, enquanto aguardava o único mecânico do lugar sair da missa para avaliar seu veículo, entrou na igreja, lotada, bem no meio da comunhão. O conserto não demorou muito, mas a estadia rápida ficou marcada pela melhor porção de hóstia com vinho de padre que experimentou.

Táscia Souza

Comments are closed.