Achados e perdidos

Achados e perdidos

Todos os dias alguém aparecia à procura de algo. E o velho senhor recolhia tudo. Brinquedos esquecidos na caixa de areia da praça do bairro. Molhos de chaves deixadas desavisadamente no balcão da padaria. Carteiras caídas dos bolsos de passageiros dos ônibus lotados. Documentos encontrados nas sarjetas.

Mas as prateleiras da pequena repartição também estavam abarrotadas de coisas que ninguém procurava. Desejos não realizados. Esperanças frustradas. Amores desfeitos. Sonhos vencidos. Corações despedaçados. Identidades perdidas — não essas de papel plastificado, com um número a ser decorado, mas aquelas feitas de pensamentos e lembranças — de quem, num repente, não sabia mais quem era.

Táscia Souza

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