Bizarro

Bizarro

Veja só, em uma certa-feira, nos idos da minha adulta-juventude, voltava eu do trabalho à casa, levado pelos meus pés espremidos nesses sapatos desnecessários e desconfortáveis, inaptos para médias e longas distâncias — por tanto, eu era levado pelos meus pés e pela minha teimosia contumaz; o ponto de ônibus era justamente em frente ao escritório. 

Já quando eu alcançava a Rua Paracambi, desaguou uma óbvia chuva de verão (não notada pela improdutividade no ato de contemplar o firmamento). De impulso, recorri em um salto a um bar que se abrigou ao meu lado. As nuvens não indicavam tanta pressa. 

Observado, porque a camisa azul-gelo destaca o corpo sob as gotas e sob o pano, me sentei com projetada confiança e solicitei a cerveja mais em conta, dentre às maltadas; falei ao telefone como se esperasse alguém, a segunda pseudoligação foi interrompida pela voz e violão, que por sua vez sugeriu a segunda cerveja. A segunda música eu não conhecia, mas, se não estou enganado, o cantor a antecedeu dizendo que era uma releitura de Seja Você, gravada por Pitty.

Heitor Luique

Texto elaborado na oficina “Arquétipos e criação de personagens” realizada no Palavre-se, Tenetehara, agosto de 2019.

 

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