Retrocesso

Retrocesso

Vínhamos progredindo. Era o pior cenário desde a redemocratização e o fascismo bafejava bem na nossa cara, mas havia um avanço perceptível que fazia crer que, se uma parte da humanidade evolui, toda ela o faz também. Com a pandemia, o desastre. E não apenas o escancaramento da nossa brutal desigualdade, mas aquele pequeno bilhete junto à máscara de tecido: “Após lavada, passar com ferro bem quente para ser usada novamente”. Aquele verbo ali. Aquele calor capaz de matar vírus, mas também de derreter a evolução. Agora que tudo voltou ao normal — e com tudo digo até a brutal desigualdade e o fascismo bafejante —, as pessoas de bem estão lá fora, sem as máscaras, mas exibindo suas roupas cuidadosamente desamarrotadas. Depois de tudo, não dava pelo menos para termos abolido o ferro de passar?

Táscia Souza

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