Fisioterapia

Fisioterapia

Era uma clínica de reabilitação para quebras em geral. Quebras que tivessem a ver com o sentido de humanidade, quer dizer. Copos quebrados não precisavam de reabilitação, só de vassoura e pá e extremo cuidado para, na pressa, não arrancar sangue de um dedo. Fêmures, patelas, tíbias e fíbulas, porém, tinham lá sua sala específica, onde eram incentivados, mesmo combalidos, a prosseguir a caminhada, assim como quadris quebrados também tinham a sua, na qual tentavam voltar a ter jogo de cintura. Até ombros quebrados, que exigiam extrema paciência — uma paciência que multiplicava as muitas horas de cirugia por semanas e meses e até anos —, tinham um local propício para serem reensinados aos poucos a suportar os pesos do mundo.

Havia, no entanto, amplos salões lotados, mas muito menos bem-sucedidos nos propósitos do lugar. O vasto cômodo dos que quebravam a cabeça. O enorme auditório dos que quebravam a cara. O pátio imenso, descoberto, dos que viam quebradas suas promessas.

Táscia Souza

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