Homófonos

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No caderno de receitas, ela tinha o hábito de anotar o tempo de cosimento dos pratos, e a grafia estava certa. Meia hora para alinhavar os ingredientes. Uma hora e meia para drapear massas. Vinte minutos para embeber molhos, reduzindo-os feito tecido, para que uma pitada de sal se encaixasse com perfeição num dente de alho ou num grão já moído de pimenta-caiena. Quinze minutos para forrar louças. Na gaveta sob a pia, junto com talheres e conchas e escumadeiras, havia até uma agulha e um rolo de barbante, para dar ponto (literalmente mesmo) a cada preparo.

Já no quarto de costura, ela cozia, a máquina vermelha que fora da avó vertendo não roupas, mas temperos destinados a dar sabor ao próprio corpo.

Táscia Souza

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