Quebranto

Quebranto

Na parede da minha casa tem um quadro de um menino tomando chuva. Cá fora está uma seca danada, e um frio danado, mas lá dentro ele veste bermuda, camiseta, e pula descalço sobre a poça d’água, sob a chuva. “Vai constipar, menino!”, às vezes penso, embora saiba que chuva não constipa ninguém, nem por baixo, nem por cima. “O que faz gripar é vírus, não chuva”, diz o médico. “O vento vira é no bucho, não no tempo”, atesta a benzedeira. Ainda assim, temo pelo menino na friagem dos caquinhos de azulejos azuis e brancos de que é feita a chuva. Temo por ele lá, na paralisia do quadro onde não há vírus que ventam, nem há ventos que viram, mas também jamais faz sol.

Táscia Souza

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