Toda tarde subia o som da rua em horários distintos. Apenas o horário mudava, o som era sempre o mesmo. Umas notas num cavaquinho e outras notas na voz do artista. As mesmas, sempre as mesmas.
Tinha letra, do jingle do presidente a Raul, ele tocava todas. Todas iguais. Todas. Iguais. Todos. Os. Dias. Debaixo da janela do escritório.
O trabalho era cheio de problemas, dúvidas, questões, processos, atendimentos e mais atendimentos. Nada fácil, porque tudo com gente. Muita gente, da cidade toda.
Nada pior do que o som que subia com cavaquinho e voz, nem sempre samba, mas de uma nota só.
Pegou a faca da cozinha e desceu. De escada, pra não perder o ritmo. Foi direto até o artista e viu um panda.
“Por que tá vestido de panda!?”
“As crianças gostam.”
Porra, que mundo injusto!
Gustavo Burla
