Ela já havia achado seu lugar bem no fundo quando eles entraram, pouco antes de a porta se fechar. Elevador cheio, 30 andares, ela espremida num canto de trás. E o casal, no meio da briga.
— Quer saber? É melhor mesmo você ir.
— Eu vou mesmo.
— Vai mesmo!
— Se você quer assim, vou mesmo. Mas não precisa me esperar de volta mesmo não.
— Você está mesmo me ameaçando?
— Não é uma ameaça. Mas se você pensa que vou voltar com o rabo entre as pernas depois de você me mandar ir, você não me conhece mesmo.
A repetição da palavra mesmo era diretamente proporcional ao crescimento da raiva. A cada andar, os passageiros do cubículo de aço inoxidável murmuravam um pedido de licença aos dois (que nem se abalavam), antes de descerem, constrangidos.
No 23°, só tinham sobrado ela, despercebida, e eles, acalorados. No 25°, quando o número se acendeu e as portas se abriram ao comando eletrônico que ela mesmo acionara ao apertar o botão ainda no térreo, baixou a cabeça para fingir que não era o seu e permanecer ali, para terminar de ouvir aonde chegaria mesmo aquela briga.
— Você vai mesmo virar as costas e sair assim?
No susto, ela só teve tempo de levantar os olhos e encarar as costas do segundo deles no corredor, enquanto as portas se fechavam.
Subiu mais cinco andares, atônita. E depois desceu 30, inconformada. E tornou a subi-los, inconsolável. Uma terceira margem no elevador, indo e vindo pelo edifício, à espera de que o casal voltasse, junto, para só então, aos olhos e ouvidos dela, terminar mesmo de se separar.
Táscia Souza
