Quando construírem um foguete-caravela para finalmente colonizarmos Europa — vingança tão esperada — outro eu anos-luz além quando na Terra eu for só vapor se sentará na superfície de gelo e olhará para o céu para Júpiter ali boiando no espaço parecendo mais de vinte vezes maior do que parece nosso sol O sonho de Marte terá ficado em Marte como a guerra na guerra O inferno de Vênus terá ficado em Vênus como o amor no amor
Não era chocolate. O marrom na casca era terra, uma lama espessa que tentara fazer as vezes de confiserie, sem o ser. Estava mais para uma confissão. Alguém roubara o ovo. Ou tentara. O único ovo que ainda havia. E, então, desajeitado alguém, deixara-o se espatifar na poça de barro bem na portinhola do galinheiro. Sobrara a casca ferida. Branquinha e fina e coberta por uma camada castanha e viscosa, como, no verão, ficam fácil essas réplicas vendidas no supermercado envoltas em papel laminado fosco branco e vermelho, guardando o segredo de uma surpresa.
Aquele ex-ovo fora do mesmo tamanho da cópia, mas não guardava mais surpresa. Ou a surpresa, então, era precisamente passar de ovo a casca sem que ninguém visse a passagem da gema a pinto, ou do pinto a galo, ou do galo a um belo de um molho pardo. Ou a surpresa, então, é justamente o então: a conclusão de que não há passagem alguma. Até a de ônibus para correr dali ao supermercado estava pela hora da morte, assim como qualquer ovo, de confiseur ou de galinha granjeira mesmo, que se pudesse buscar lá.