Chegou tímido, mas feliz. Afinal, chamaram por ele. Por lá ficou, sorrindo e alegre, durante dois dias. No terceiro, ouviu alguém dizer que já estava demais.
– Que calor é esse, gente! Podia cair uma boa de uma chuva!
Ficou triste, mas não se abateu. As críticas ficaram mais ferozes.
– As represas estão secando, precisamos de chuva!
Assim ele fez, apesar de não se sentir culpado. Saiu de cena, passou a bola, chamou São Pedro. Choveu, choveu, choveu. Chamaram por ele de novo. Veio feliz e sorridente.
No dia seguinte, porém, já estavam reclamando. Desistiu. Foi fazer terapia.
– Como era o relacionamento com seus pais na infância?
Ele não lembrava. Finalmente percebeu que, por não ter lembranças de quando era criança, tinha dificuldades em lidar com a infantilidade do ser humano. Voltou confiante. Afinal, chovia há duas semanas.
Mal trabalhou por 10 horas e contabilizou 11 vezes seguidas em que alguém reclamou do calor. Nem os vendedores de picolé aliviaram, pois seus carrinhos não davam mais conta de gelar a tempo.
Fez as malas, saiu de férias para espairecer.
Choveu durante três anos.
Paloma Destro