Santo dos últimos dias

Santo dos últimos dias

 

A voz pelo telefone intimava – fiz um blog e a cada semana a gente muda o texto; na próxima é o seu que entra.

 

Me diverti com a idéia e dei palpites de conteúdo e forma, deixei crescer a idéia e contei pra muita gente, com o endereço pra visitar. E a semana foi passando e o blog tava lá, esperando meu texto. Nem lembrava disso, confesso, ficava mais pensando no blog do que na minha obrigação de escrever. E chegou o final de semana e no domingo a cobrança – manda seu texto pra mim hoje, tenho que postar no blog.

 

Não tinha texto ou tempo. Nem idéia de texto nem tempo pra idéia.

 

Pega qualquer conto seu e manda, escolhe um, você não tem um monte?

 

A idéia do blog era, antes de tudo, a de nos obrigar a escrever com freqüência. Qual o resultado se enviasse um texto velho? Mas não tinha um novo. E não queria enviar um velho. E o trabalho de domingo não acabava, na segunda não daria tempo ou ao longo da semana, e mesmo assim seria tarde demais. E a pressão martelava tem que escrever tem que escrever tem que escrever e eu sem texto e sem idéia e a pressão continuava e eu perdido sem saber o que fazer e a pressão e eu.

 

Estava ficando doente. Desisti. Não escrevi.

 

  

Gustavo Burla

 

 

Publicado originalmente em http://hipocondria.blog.terra.com.br, 10 de março de 2008.

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