Como nossos pais

Como nossos pais

 

“É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem.”


Sempre fui uma pessoa saudosista. Adoro o passado, as histórias e as razões que nos fizeram chegar ao lugar onde estamos. É como uma fixação, atrai escutar as vivências de alguém mais velho. Por isso, acabo concordando que a vida de nossos pais e avós era mais simples, bem vivida e mais contemplativa, apesar de não imaginar a minha sem televisão e internet.

 

Às vezes, penso na minha biografia e no que direi aos meus filhos. Acho que não tenho substância e conteúdo, mas, olhando os jovens ao redor, percebo que existem biografias muito piores que a minha. O que esses pseudo-adultos, que vão a essas festas de beijos permitidos, bebida liberada e drogas escancaradas, vão dizer aos seus descendentes? Que ficavam doidos e acabaram perdendo vários neurônios? Que têm o pulmão mais preto que carvão? Que estão surdos, por terem ficado expostos a milhões de decibéis? Que passavam mal e não se lembravam de nada? Que contraíram uma doença através do beijo, e por isso têm hepatite ou cirrose?

 

Ou será que esse tipo de conversa nem precisa acontecer, pois vão lembrar eternamente o acidente que lhes tirou os movimentos, ou que os fez perder um amigo? Ou vão ter que lidar com o ser “indesejado” concebido inconseqüentemente? Não sei, isso é muito complexo para mim. Talvez no futuro, quando meus pais morrerem, eu passe a escutar a história destes jovens, para saber se serão hipócritas ou dirão a verdade. Acho que para essa pergunta já sei a resposta. Os homens evoluíram, mas continuam os mesmos.

 

 

José Eduardo Brum

 

 

Publicado originalmente em http://hipocondria.blog.terra.com.br, 28 de abril de 2008.

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