Me contaram outro dia

Me contaram outro dia

 

Me contaram certa vez
Uma história interessante
Que é verdade disso eu sei
Tem testemunha em flagrante
Mas me falaram: “você!
Nem por decreto que conte!”

Mas eu canto porque o instante existe
e minha vida está completa.
Não sou alegre ou triste:
Sou poeta.

Dos mais ruinzinhos, confesso
Que não sou cabra da peste
E essa história, como eu,
Não veio lá do nordeste
Eu sou é bem mineirinho
Cá no nariz do sudeste

Se é daqui mesmo num sei,
Mas vamos fingir que seja
Ou o meu contador
Vai me comer com cerveja
Me beliscar todinho
Maçã na boca e bandeja

E vamos direto ao ponto
Que eu aqui faço lista
Não faço jus à história
Porque nem sou tão artista:
O carro parou no sinal
Dois tiros no jornalista

Calma, minha senhora
O homem então não morreu
Nem mesmo depois bateu bota
O guarda é que se deu mal
Pois deixou de ser vigia,
Foi lá e dois tiros deu

Virou pra voltar pro posto
Foi preso na hora e no ato
Levaram pra delegacia
Não podiam deixar barato
Dois tiros na Rádio Globo
Não é igual caçar pato

Sentaram o moço no banco
Fizeram investigação
Não gostou do final da novela
Que viu na televisão
Queria matar o moço
Mas não sabia quem não

Viu a marca no carro
Armou a munição
Achou que fazia bonito
Mas acabou na prisão
Doente de coisa grave
Que é desinformação.

 

Gustavo Burla

 

 

Publicado originalmente em http://hipocondria.blog.terra.com.br, 7 de abril de 2008.

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