Companheiro? O que é isso?

Companheiro? O que é isso?

 

Certa vez, (não) conheci uma pessoa que me encantou, pois fazendo tratamento médico queria logo o resultado positivo porque ansiava por andar na chuva.

 

Numa mesma manhã, dois homens traziam seus nomes no jornal. O primeiro, mais velho, professor de tantos anos que o brilho dos cabelos brancos pedia mais velocidade no obturador. Fora entrevistado acerca de um livro, fruto de esforço e pesquisa, de foco e coerência com seus objetivos. O outro homem, na verdade um menino ainda, escreveu o nome em outra página, na mesma frase de “furtou o veículo e fugiu, mas foi parado pela polícia numa blitz e algemado”. Além de ocuparem a mesma edição, ambos tinham uma família e um aluguel para pagar.

 

A cidade cosmopolita vive um dilema: mudar, arriscar o novo, dar mostra de crescimento moral e intelectual ou manter-se atrelada aos mesmos termos conservadores e já retrógrados. É um embate entre ter fé no futuro e prender-se ao passado. E em meio ao processo, a ideologia. Acreditar e proceder conforme determinados valores é fundamental para a tranqüilidade de consciência, dizem. A ideologia na práxis é outra.

 

Candidato derrotado a vereador marca encontro com militante. Oito horas da manhã este estava lá, com rosto e corpo erguidos pela vontade e maculados pela vida. Às cinco da tarde ele ainda estava lá e o outro, mostrando porque era derrotado, não havia chegado. Sem nada para comer o dia todo, ainda assim o companheiro ficou lá, sustentado pelo que possuía de mais precioso: sua palavra.

 

 

Gustavo Burla

 

 

Publicado originalmente em http://hipocondria.blog.terra.com.br, 27 de outubro de 2008.

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