Uma definição básica

Uma definição básica

Eles foram chegando, um a um, como se surgissem de algum lugar da memória. Trouxeram sorrisos, choro e recordações. Não podia imaginar que veria o amigo que sumiu para fazer fortuna, a antiga paixão da adolescência que agora andava de cadeira de rodas, muito menos, a companheira de faculdade que o ajudou a concluir os estudos. Até os netos que nunca tinham tempo, arranjaram uma pequena brecha. O que era real? O que era fictício?

Re-experimentar aquilo tudo fez com que a certeza se firmasse. Era o fim da linha. Seu médico não havia dito por não ter coragem de enfrentá-lo, ou por achar que ele próprio, junto de suas dores e tosses, não teria força suficiente para aceitar. Que seja! Não importava. Só sabia que o sopro extinguiria o fraco fogo da vida, embora parecesse um vendaval. E que o fio tecido há mais de 70 anos estava prestes a ser cortado.

Com toda a felicidade do mundo, orgulhava-se. De nunca ter retrocedido e de nunca ter se importado com os dois buracos negros em sua vida: o nascimento e a morte. Agora, por causa de uma doença desconhecida, começava a afundar na falta de conhecimento e de sensação. A jornada sempre acaba, simples e friamente, mesmo que se esteja rodeado. Não há escapatória, o destino é certeiro.

 

 

José Eduardo Brum

 

 

Publicado originalmente em http://hipocondria.blog.terra.com.br, 24 de novembro de 2008.

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