RSVP

RSVP

Ninguém acreditou que ele os convidara para seu casamento. Fazia anos que não se viam, naquela batida da vida que leva cada um para um canto depois da formatura. Mas as lembranças continuavam bem vívidas. Uns ainda pensavam que ele era celibatário; outros, que era galinha demais. Alguns arriscavam jurar que era gay, embora tal coisa ainda fosse inconfessável naqueles idos da Faculdade de Engenharia. Outros tantos argumentavam: mas era só o que se podia conjeturar mesmo visto que ninguém jamais tinha visto a tal falada namorada, que ele fazia questão de esconder como uma roupa de baixo qualquer! O único consenso entre vinte e três dos vinte e cinco alunos da antiga turma de cálculo que receberam o convite empolado naquela manhã era de que, apesar de toda aquela caligrafia rebuscada que trazia seus nomes, nenhum deles podia crer que justo ele ia se casar.

A notícia se espalhou como um segredo. Colegas que desde o fim do curso não se encontravam passaram a se telefonar desbragadamente, ansiosos por comentar impressões, opiniões, lucubrações. Por fim chegaram à conclusão de que só um deles podia lançar luz sobre aquele mistério: o vigésimo quarto, aquele que desde muito antes do ensino superior, ainda na escola secundária, havia sido seu melhor amigo.

– Impossível. Conheço o Osvaldo há séculos. Ele jamais convidaria alguém pro seu casamento.

– Mas tá aqui, ó. Osvaldo e Angelina, em itálico. Não era Angelina o nome da fulaninha que ninguém nunca viu?

– Ainda mais com essa. Não apresentou a garota pra ninguém quando namorava, vai apresentar quando casar?

– Mas tá no convite. Papel com textura, imitando linho. Iniciais entrelaçadas. O endereço do cartório. Todo rococó.

– Não tem jeito. Ou não é o Osvaldo ou não é casamento. Tô falando.

Não era mesmo. Casamento, quer dizer. Na hora marcada, Osvaldo convidou-os para o divórcio.

Táscia Souza

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