Sempre dualidades

Sempre dualidades

Incontáveis canecas de cerveja, exatamente duas de água, apenas um copinho de cachaça, dois sacolés de vodca desceram, durante mais de cinco horas, no estômago vazio. O que isso tinha de mais? Calor do sábado de carnaval, prima companheira animada e bastante gente bonita compuseram o primeiro dia da festividade, o único, embora ele nem pudesse imaginar isso.

Fez o que sempre fez: dançou, circulou, olhou, enturmou, abusou, apertou, balançou, conversou. Foi feliz. No entanto, a tristeza chegou mais cedo, ao começar a passar mal e jogar fora o álcool do corpo.

Ruim ou péssimo? Não soube decidir. Tinha aproveitado por completo, enquanto o bloco estava na concentração. Quando este foi para a rua, já estava na casa da madrinha, apagado, esquecido, adormecido, elevado.

Sem dor de cabeça, ressaca, dormência, o arrependimento pelo exagero era o único remanescente. Se tivesse prolongado, talvez teria acontecido tudo o que falaram. Disseram que ele derrubou no chão a madrinha do bloco, que dançou com bêbados (ou ele era o bêbado dançante?), que tinha fumado, que tinha provocado o maior vexame, que dera bebida aos primos menores de idade. Por quais outros crimes levara o crédito?

O arrependimento tornara-se alívio. O pior não foi comentado. A sua verdade escondida nem fora suspeitada. Aquilo que certamente transpareceu com a bebedeira não pulou aos olhos dos fofoqueiros. A verdade só brota quando as pessoas querem.

José Eduardo Brum

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