Dizem que teatro é uma suruba e Guilherme foi pra lá pensando nisso. Entre uma sementinha e outra se apaixonou por Glorinha. Apaixonou não, queria comer Glorinha, mas se durante os exercícios ela era toda dada, acabada a atividade não restava nada além de gelo e intelectualidade. Achou, então, o caminho.
– Vamos fazer um clube de leitura?
Olharam-se todos, alguns com receio, típicos atores que se bastam, e outros com interesse em aprimorar os conhecimentos e crescer na vida e na cena. E foram pipocando perguntas e sugestões, até que Guilherme, com o discurso armado, sugeriu Nelson Rodrigues.
– Somos 17 no grupo, podemos ler as peças.
– Não vou, não gosto dele.
– Então somos 16, a gente tira A serpente, que é chata, e lê as outras.
– Batata, respondeu um. E enquanto dividiam os textos entre os colegas, de modo que todos lessem todos, mas sempre um seria o condutor da discussão, Guilherme continuou.
– Podemos fazer tudo lá em casa, preparo sempre porções, algum tira-gosto, e tomamos vinho, o néctar de Dionísio.
Foi a própria Glorinha quem deu o toque final.
– Se é clube de leitura vamos nos reunir na sala de leitura aqui do teatro, ou vira festa.
E Guilherme aprendeu Nelson Rodrigues e Platão no mesmo clube.
Gustavo Burla