Tinha gente de pé quebrado, com dor de cabeça constante, com problemas de estômago. Isso de nada importava. Todo mundo estava unido pela comemoração, pela libertação, pela alegria. Bebida, beijo e bagunça predominavam entre a turma. A famosa Festa Agrícola reunia a galera que passava quase um ano inteiro sem se ver.
Por cinco dias, ele não era ele. Deixou estudos, trabalho, problemas. Libertou-se. Soltou-se. Viveu. Como as coisas boas sempre têm um fim, o ruim foi o retorno. Que vazio existencial!
Passou rápido, condizente com a vivência intensa. A rotina dionisíaca era: acordar ao meio-dia, tomar o almoço café da manhã, sair para o aquecimento variado. Num dia foi chá pra beber (além da bebida, deveriam levar fraldas, pois Deus mandou crescer e multiplicar), no outro, sarau com jovens talentos. Criatividade não faltava.
Depois disso tudo, era só chegar alto em casa por causa da bebida, se arrumar rápido e sair. Mais uma rodada de agito, com direito a apimentados momentos de paixão. É tenso.
Afinal, teria de retornar. Aquilo tudo pareceria um sonho bom. Que não se repete. Não da maneira como foi. Porém, a dor no fígado deixava a certeza de que o excesso ocorrera, que fora feliz.
José Eduardo Brum