Resoluções em família

Resoluções em família

Era só passar o Natal (tempo de festa, de família, de resto de peru, de olhar para o relógio sentindo-se preso num longo domingo de angústia ampliada) que os dias pré-réveillon voltavam a ser dedicados ao individualismo – o que não quer dizer, de forma alguma, que planos individuais não possam contemplar desejos coletivos.

Na casa, por exemplo, cada membro da família possuía sua própria listinha de resoluções estritamente pessoais para o Ano Novo, a maioria das quais reciclada da lista do Ano Velho, mas que dificilmente deixavam de incluir um ao outro, como bons familiares que eram.

Na lista do pai o primeiro item era a aposentadoria, seguida da compra daquela casinha na roça onde pretendia curtir sossegado a velhice – sem se preocupar que sua esposa, com quem estava casado havia 37 anos, tivesse legítima aversão a terra, mato, plantações e adjacências.

Na lista da mãe o principal objetivo era também a aposentadoria do marido, seguida da compra daquele apartamentinho beira-mar em Cabo Frio para o qual pretendia se mudar de vez e curtir diariamente a praia – mesmo sem a companhia do dito cônjuge, que não suportava sol, sal, areia e mais adjacências.

Na relação da filha a realização fundamental era fazer o noivo pedi-la de vez em casamento, o que antes passava pela aposentadoria de seu generoso genitor e pelo duplex no bairro nobre que ele lhe compraria para que os recém-casados pudessem começar a nova vida de maneira digna – e, obviamente, com piscina nas adjacências.

Já os planos do filho eram os mais nobres, porque abarcavam todos os integrantes da família: ele sonhava com a aposentadoria do pai, a mudança da mãe, o casamento da irmã para, enfim, não ter ninguém nas adjacências.

Táscia Souza

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