Mosaicos

Mosaicos

Acordou para ver tudo separado, como no painel ao lado da piscina do hotel. Ficou abismado com a obra quando chegou, a imaginar como alguém, diante do mundo de formas e cores gradativas, conseguia ver tudo em partículas angulosas coladas sem nexo aparente e com harmonia no final. Passou e foi para a convenção.

Aquele olhar fragmentado do mundo era novo, estranho, um tanto confuso, mas espantou-se ao ver pela primeira vez seus dedos movendo-se num caleidoscópio de formas e ângulos. Levantou-se e pegou as coisas, juntou as roupas na mala, guardou o terno que usara na festa de encerramento e saiu. Aquele mundo de mosaicos dava-lhe, já, dores de cabeça.

Os enfeites da portaria do hotel tinham novo brilho, como caricatos pareciam os colegas de simpósio. Fechou a conta, agradeceu e, ao despedir-se dos conhecidos, foi-se com duplo alerta: não esqueça de arrumar os óculos quando chegar em casa; e beba menos.

Gustavo Burla

Comments are closed.