Bombeiro-costas

Bombeiro-costas

Foi almoçar com a madrinha no dia do aniversário, ela queria fazer o prato preferido. Aquela macarronada deliciosa, lembra? Só coloquei um pouquinho de pimenta no molho, porque sei que agora você gosta de pimenta. Na primeira garfada já se perguntava se depois da pimenta tinha se lembrado de colocar o molho. Resistiu bravamente, gostava de pimenta, e saiu satisfeito.

Só que não vivia sozinho, nem em si e nem no mundo. Os primeiros problemas começaram no estômago, numa queimação que nada tinha de gastrite ou azia. Sentiu as etapas do aparelho digestivo melhor que nas aulas de anatomia e refletiu sobre a extensão dos intestinos. Cada pólipo que encontrava as iguarias da madrinha se manifestavam, sofriam mutações de mal para bem passado.

Por sorte, a primeira manifestação externa se deu em casa, no banheiro, onde apenas um jogo de toalhas havia a ser incendiado. O resto (azulejos, teto, espelhos, box) apenas chamuscaram. As roupas uniram-se às toalhas. Ao longo do dia, em manifestações brandas, perdia as calças, bermudas, cuecas e, num descuido, um pedaço do sofá.

No dia seguinte tinha trabalho, não poderia ficar em casa, mas temia pelos outros (no ônibus, no elevador, na rua). Contratou um bombeiro-costas, pela segurança da sociedade.

Gustavo Burla

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