Funcionária de repartição pública, se vangloriava com as colegas de que já na fila, na multidão de pessoas que vinham se debruçar sobre as mesas diariamente, poderia encontrar o homem perfeito.
Uma das colegas se apaixonou por um certa vez, nem tão bonito, mas a amiga que tudo sabia foi logo dizendo: tem a aura um pouco gris, vai dar trabalho. Não tinha credibilidade, mas foram poucos meses até isso mudar, quando a colega foi corneada.
Outra gamou por um mais velho, ligeiramente calvo, nem tão bonito, mas não se importava, queria beleza interior. Foi logo consultando a vidente, que afirmou: pode casar, defeito mesmo, só se tiver chulé. Tinha, mas a amiga casou assim mesmo.
E você, perguntavam as colegas, porque vive solteira, não achou o homem perfeito? Não, pra mim tem que ser perfeito da cabeça aos pés, do nome ao sobrenome, sem subterfúgios.
Foram anos até que o homem perfeito aparecesse, lindo, alto, forte, cara de inteligente, jeito sedutor, aura reluzente. E foi direto pra mesa dela, como se a luz que emanava da troca de olhares fizesse brilhar somente aquele espaço na repartição.
– Seu nome?
– Vandercleyton.
– Van…?
– Vandercleyton, tudo junto mesmo, e com ípsilone.
– Excêntrico…
– Meus pais, Vander e Cleyton. Quiseram me homenagear porque queriam muito um filho e foi muito difícil até conseguirem.
– Imagino porque…
– Você também quer ter filho?
– Até agorinha sim… Mas minha dificuldade é falta de homem, pelo visto não era o caso dos seus pais.
– Como assim?
– Vander… Cleyton…
– Cleyton é minha mãe.
– Cleyton?
– Meus avós gostavam de teatro e homenagearam a Cleydi Iáconis e a Tônia Carrero.
– E seu pai, é homenagem a quem?
– Ninguém, minha avó é holandesa e meu avô, alemão, não tinham muito em comum.
Gustavo Burla